Abraço com Cheiro de Canela

Os 40 anos seguindo o rastro de cheiro de canela em um remanescente de Mata Atlântica para monitorar o muriqui-do-norte, fez da pesquisadora Karen Strier uma parte do bando e da CI-Brasil uma parceira longeva na preservação do maior primata das Américas.

Andar pelas trilhas de remanescentes da Mata Atlântica no município de Caratinga, em Minas Gerais, e sentir o cheiro de canela, é sempre um bom sinal: significa que tem muriqui-do-norte por perto, explica a Dra. Karen Strier, da Universidade de Wisconsin-Madison nos Estados Unidos.

O projeto Muriqui de Caratinga, liderado pela pesquisadora e apoiado pela CI-Brasil há quase 35 anos, viu gerações de muriquis se formarem e um grupo de 50 macacos virou mais de 200 indivíduos. O projeto Muriqui de Caratinga aprendeu com o maior primata das Américas a necessidade de ser ‘bando’ e cresceu. O projeto nos 40 anos de existência mobilizou mais de 80 estudantes de 14 estados brasileiros, ensinando a eles que o muriqui-do-norte é um patrimônio do país. Parte dessas bolsas foram concedidas com apoio da Conservação Internacional.

"A longa parceria com o CI-Brasil no Projeto Muriqui de Caratinga é fundamental para a viabilidade do projeto. O apoio logístico na administração das bolsas, provenientes principalmente dos EUA e outras fontes, é essencial pois além de fortalecer a pesquisa do primata, promove a colaboração nacional e internacional”, ressalta a Dra. Karen Strier. O projeto continua sendo um modelo de pesquisa para a proteção dos muriquis e estimula estudos em outras áreas, com outros primatas. “As descobertas sobre o comportamento dos muriquis têm sido aplicadas em projetos diversos em outras regiões, dentre eles de manejo, incluindo a Reserva Particular do Património Natural (RPPN) Feliciano Miguel Abdala, berço desses muriquis”, finaliza.

Ao ajudar a formar uma nova geração de pesquisadores e conservacionistas do muriqui, a CI-Brasil colaborou um futuro diferente do que foi traçado para o primata há décadas. O comportamento pacífico, semeador, igualitário e resiliente dos macacos, motivou centenas de pesquisadores, ao longo destes anos, a pensar alternativas para a sobrevivência da espécie.

"Celebrar essas quatro décadas é também uma oportunidade para pensar os próximos passos para continuar a história, já que o muriqui-do-norte ainda está criticamente ameaçado de extinção. Conseguimos apoiar o projeto no campo da pesquisa e agora precisamos pensar na floresta de pé para sua continuidade. A criação de corredores ecológicos, por exemplo, é uma estratégia ambiciosa e de grande escala, que diminuiria os efeitos dos ecossistemas desgastados, conectando diferentes áreas, com o objetivo de proporcionar o deslocamento dos muriquis e de outras espécies, a dispersão de sementes e o aumento da cobertura vegetal. Garantir a sobrevivência do primata, também é fortalecer a floresta onde vivem, levando em conta os serviços ecossistêmicos que eles prestam como semeadores", considera Bruno Coutinho, Diretor de Gestão do Conhecimento da Conservação Internacional.

Há muito para comemorar destes 40 anos de história, celebrados em junho de 2023 com a presença de pesquisadores e representantes de organizações que desenvolvem estratégias para preservação de primatas e dos ecossistemas em que eles vivem no país. Celebrar os 40 anos do projeto Muriqui de Caratinga é celebrar a floresta em pé e o primata semeador mais carismático da Mata Atlântica.