Nas Nossas Veias Corre o Mar

No Extremo Sul da Bahia, vezes a terra, vezes no mar, novas tecnologias associadas ao fortalecimento de organizações comunitárias constroem novos caminhos para geração de renda e conservação da natureza.

Filho de pescadores, nascido e criado nas praias da Reserva Extrativista Marinha do Corumbau, Rodrigo carrega o mar até no sobrenome: Marinho. Como é de costume, seguiu a profissão da família e desde cedo aprendeu as práticas da pesca artesanal. “O mar para mim é vida. Nós respiramos graças a ele. Eu não consigo me enxergar sem o mar. Ele é o nosso sangue.” O que Rodrigo não sabia é que, mesmo para uma comunidade tão conectada com o oceano, ele ainda guarda segredos. A surpresa para ele veio em forma de uma nova alternativa de renda: cultivo de algas.

O projeto piloto para cultivo de algas nativas da região foi apresentado para a comunidade pela Conservação Internacional em parceria com o Instituto BKK - organização focada em negócios de impacto, e com a Universidade Estadual Paulista (UNESP). À primeira vista, a iniciativa foi recebida com ceticismo pela comunidade. Rodrigo e o pai, Gilberto Marinho, iniciaram o projeto sozinhos, sempre com o incentivo da CI-Brasil, e depois de um ano de execução ganharam a confiança de outras pessoas da comunidade. O projeto conta atualmente com a participação de 15 famílias e busca alcançar 7 hectares de cultivo de algas marinhas nativas dos tipos Gracilaria s.p. e Hypnea Pseudomusciformis.

Foi uma surpresa porque a gente passava por essas algas e para a gente não era nada. Quando nos foi apresentado os nutrientes que existem nas algas, o que se pode fazer com elas, foi fantástico. A extração do ágar-ágar, nunca passou pela minha cabeça, que um pescador na reserva conseguiria fazer. Isso é muito legal.

Marinho

Buscar fontes alternativas e sustentáveis de renda é uma forma de fortalecer comunidades pesqueiras e fomentar o desenvolvimento social, econômico, cultural e ambiental na região. “A pesca está muito cansada. Algumas espécies de peixe estão sumindo da nossa região em razão da pesca predatória. Espécies que a gente pegava com muita facilidade hoje não conseguimos mais. Esse cultivo é uma forma sustentável de conseguir uma renda a mais e dar uma folga na pesca artesanal”, relata Marinho. As algas são fartas na região e o uso delas na alimentação vem aumentando em todo o mundo. Além disso, o ágar-ágar - substância extraída das plantas marinhas, é usado na produção de biofertilizante e bioplástico e pela indústria farmacêutica.

Além do apoio com a ciência por trás do cultivo das algas, o projeto também tem trabalhado para fortalecer a Associação de Pescadores de Cumuruxatiba (APEC), parceira local, por meio de oficinas de associativismo, para elaboração de projetos socioambientais, construção de um roteiro de boas práticas para o cultivo de algas, entre outras ações. “Hoje as famílias estão amando o projeto e temos a expectativa de aumentar o cultivo para outras comunidades. É uma forma de agregar uma fonte de renda a mais para os pescadores”, conta Rodrigo.